São João da CruzSão João da Cruz, religioso espanhol do século XVI, deixou-nos extensa e profunda obra de grande valor espiritual, na qual se destacam as poesias. Estando preso pelos seus companheiros de vida religiosa, que não concordavam com a reforma que empreendia juntamente com Santa Teresa de Ávila, compôs os versos abaixo que é o cantar da alma que se alegra em conhecer a Deus pela fé.      

 

Que bem sei eu a fonte que mana e corre

Mesmo sendo noite!

 

Aquela eterna fonte está escondida.

Mas bem sei eu onde tem sua guarida,

Mesmo sendo noite!

 

Sei que não pode haver coisa tão bela

E sei que os céus e a terra bebem dela,

Mesmo sendo noite!

 

Sua origem, não a sei, pois não a tem,

Mas sei que toda a origem dela vem

Mesmo sendo noite!

 

O fundo dela, sei, que não se pode achar,

E que ninguém pode por ela a vau passar,

Mesmo sendo noite!

 

Sua claridade nunca é obscurecida

E sei que toda a luz dela é nascida,

Mesmo sendo noite!

 

Tão caudalosas são as suas correntes

Que céus e infernos regam, e as gentes,

Mesmo sendo noite!

 

A corrente que desta fonte vem

é forte e poderosa, eu o sei bem,

Mesmo sendo noite!

 

A corrente que destas duas procede

Sei que nenhuma delas a precede,

Mesmo sendo noite!

 

Aquela eterna fonte está escondida

Neste pão vivo para dar-nos vida,

Mesmo sendo noite!

 

De lá está chamando as criaturas,

Que desta água se saciam às escuras,

Porque é noite!

 

É esta a viva fonte que desejo

E neste pão de vida é que eu a vejo,

Mesmo sendo noite!